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Vale a pena manter um carro?

Um veículo próprio muitas vezes é tido como um investimento, mas do ponto de vista financeiro ele representa um custo. Para muitas pessoas inclusive, pode representar status e conveniência, e apesar de desvalorizar e acarretar muitas despesas, uma pessoa endividada pode sentir muita dificuldade em abrir mão dessa comodidade.

Isso porque é algo muito cultural no nosso país a necessidade de possuir um veículo próprio, assim como a cobrança para se ter casa própria, pois é assim que as pessoas costumam mostrar que estão saindo da casa dos pais “por cima”. Nem sempre é a pessoa que realmente quer isso, mas muitos pais também não aceitam que o filho saia de casa pra viver um degrau abaixo, pois não querem que eles passem pelas dificuldades que os próprios pais passaram. Porém, na ânsia de dar uma vida melhor para o filho se esquecem que isso faz parte da vida. Acredito que nesse caso seria melhor ensinar que é sim necessário descer um degrau e começar a construir seu próprio patrimônio, e que pra isso pode não ser uma boa ideia já começar financiando casa ou carro e adquirindo uma dívida de anos.

Existe também o lado dos próprios filhos, que em alguns casos podem se acostumar com as “regalias” de se viver com os pais e muitas vezes o salário consegue dar conta tranquilamente do custo de um carro por exemplo, mas só porque esse jovem não precisa sustentar uma casa e todas as contas que vem com ela. Sem ter noção desses custos e querendo manter seu padrão de vida, quando sai de casa acaba engessando boa parte do seu orçamento num financiamento de casa própria, além do financiamento do carro que já tem, e mais os outros custos que envolvem manter uma casa.

Esse estilo de vida acaba fazendo parte da realidade dessa pessoa, e quando por qualquer motivo outros custam chegam a apertar o orçamento, tem-se muita dificuldade em aceitar que talvez a melhor saída seja se desfazer desses bens, pois entende-se que com isso estaria assumindo um fracasso, quando na verdade deveria ser interpretado apenas como uma estratégia para melhorar a qualidade de vida no futuro.

É claro que existem muitos aspectos para se levar em consideração, não somente o financeiro. A necessidade depende muito da rotina de cada um, e às vezes até mesmo do local onde se mora, pois pode ser que não seja um local que possamos contar com um transporte público eficiente ou com serviços como táxi e Uber, mas uma coisa é certa, carro não é investimento. Se você escolhe mantê-lo tem que ter noção dos custos que isso representa e ter isso bem organizado no seu planejamento como qualquer outro gasto rotineiro. Carro só será um investimento se você utilizar ele para gerar renda de forma direta (trabalhando como Uber, Táxi ou entregas por exemplo).

Com isso em mente, vim aqui compartilhar com vocês o que eu levei em consideração para me desfazer do meu carro. Quem me acompanha no Instagram viu que eu vendi meu carro recentemente e muitos me pediram pra explicar como calcular esses custos para saber se compensa ou não manter o carro, do ponto de vista financeiro.

Pra começar a explicação, eu morava em Cascavel/PR desde 2013 e mudei pra Curitiba no final de 2018. Comprei o carro em julho de 2014 por dois motivos principais: não tinha Uber na cidade e o serviço de táxi era muito ruim, meus avós moravam em uma cidade próxima então utilizava o carro para visitá-los sempre que tinha folga no serviço, e os outros familiares moravam em outro Estado e o aeroporto de Cascavel por ser pequeno tinha passagens com preços absurdos, pra visitar minha mãe por exemplo não tinha nem ônibus que fizesse o trecho direto, então valia mais a pena viajar de carro.

Com isso optamos por manter o carro, mesmo sabendo do custos, mas a comodidade naquele momento estava prevalecendo para a nossa tomada de decisão. Assim incluímos esses custos no orçamento e abrimos mão de outros itens pra deixar tudo equilibrado.

Enfim, antes mesmo de mudar para Curitiba já estávamos com a ideia de vender o carro pois como trabalhamos de casa agora, provavelmente não compensaria manter. Mas como “contas mentais” tendem a dar errado, aguardei 3 meses para saber na prática os custos que eu teria com o carro em Curitiba e comparar com a utilização do Uber.

Para isso fiz o seguinte: continuei usando o carro normalmente e anotando todos os custos variáveis envolvidos (combustível, estacionamento, limpeza – moro em apartamento e não posso lavar o carro na garagem) e toda vez que ia sair de casa simulava o percurso no Uber pra ver quanto custaria ir pelo app (porque o preço varia não só com a distância mas com o horário também dependendo do trânsito e da demanda).

Segue abaixo os meus custo com o carro:

* Pode ser que no seu caso existam alguns itens diferente dependendo da sua rotina ou de onde você mora, caso você pague prestação do carro também terá que incluir esse custo (no meu caso o carro foi comprado à vista então não considerei isso), mas coloquei abaixo todos os custos que eu tinha. Lembrando que fora os custos previsíveis ainda poderia ter que lidar com o custo de um possível acidente, que mesmo pagando o seguro seria necessário desembolsar pelo menos a franquia.  

** Meu carro: Hb20S C. Plus 1.6 Flex com quase 40.000 km.

Sendo assim, meu custo mensal para manter o carro era de R$ 660,66.

Utilizando Uber meus custos médios por mês foram de R$ 250,00, uma economia de R$ 410,66 por mês.

Outro ponto favorável é que alugando minha vaga de garagem após a venda do carro ainda consigo receber R$200,00 por mês, então essa diferença de economia aumenta para R$ 610,66.

Agora só pra dar a ideia de quanto isso pode melhorar, vou dar um exemplo de investimento conservador e com rentabilidade baixa, só pra mostrar que mesmo na pior das hipóteses é possível ter um bom lucro, ainda mais comparado com os custo que eu tinha antes:

Considerando a venda do carro por R$37.500,00, se investir esse dinheiro e continuar aportando mês a mês a economia dos R$610,66, no Tesouro Selic 2025 até o vencimento, terei ao final:

Valor líquido de resgate = R$ 106.013,22

* Simulação feita no próprio simulador do Tesouro Direto em 04/04/2019.

Agora imagine que com esse valor da venda do carro e da economia mensal é possível investir em produtos com rentabilidade superior e lucrar mais ainda. Enquanto se continuasse mantendo o carro, até 2025 teria gasto R$ 47.565,00 só com os custos do carro e ainda perderia com a desvalorização dele, que estaria valendo bem menos que hoje se eu fosse vender.

Espero que tenha ajudado a esclarecer alguns pontos sobre o que levar em consideração para fazer essa análise. E como eu já disse outras vezes, cada um sabe da sua realidade e da sua necessidade. Não estou dizendo que todos devem ficar sem carro, apenas que essa pode ser uma boa opção dependendo dos seus objetivos e que isso não significa que você estará regredindo, apenas adotando estratégias mais eficientes para conquistar o que você deseja.

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Sobre o autor

Formada em Engenharia Mecatrônica, estudou Gestão Estratégica de Negócios e tem especialização em Finanças, Investimentos e Banking. É consultora registrada na CVM, certificada pela ANBIMA como Especialista em Investimento e associada da Planejar - Associação Brasileira de Planejadores Financeiros. Trabalha com Planejamento Financeiro Pessoal, desenvolvimento estratégico de carteira de investimentos, atendendo de forma individual e personalizada ou através de mentorias em grupo, além do curso online Método D-RICA: reorganize, invista, conquistes e aproveite.

(4) Comentários

  1. meu sonho atual é conseguir me desfazer do segundo carro, justamente por saber dos custos envolvidos. por enquanto é necessário, mas em breve espero poder ficar com apenas um.

    tem um erro nessa parte:
    Outro ponto favorável é que alugando minha vaga de garagem após a venda do carro ainda consigo receber R$200,00 por mês, então essa diferença de economia aumenta para R$ 360,66.

    na verdade, sua economia total é de 610,66 (410,66+200,00 da vaga).
    abraço!

    1. Adrielle Anschau diz:

      Obrigada Marcelo. Atualizado já! Eu havia subtraído o valor do Uber 2x ??‍♀️

  2. Rafaela Contando diz:

    Adrielle, achei ótima a maneira como você expôs a comparação entre ter e não ter um carro! Bem clara.
    Eu vivi por vários anos sem carro. Morava no centro de uma grande cidade e conseguia fazer tudo por lá a pé, de ônibus e de Uber/táxi. Além disso, havia vários horários para pegar ônibus intermunicipal para visitar minha família.
    Atualmente, moro em uma cidade bem menor na qual preciso ter um carro, já que a oferta de outros meios de transporte internamente não atende minhas necessidades e também não há ônibus intermunicipal para a cidade onde mora minha família.
    Espero que no futuro eu possa abrir mão do carro de novo, pois ele realmente me dá uma bela mordida no bolso todo mês…

    1. Adrielle Anschau diz:

      Entendo sua situação. Como viu ali, fiquei 4 anos assim, sabendo que estava perdendo dinheiro mas precisava por outros motivos, então tinha que compensar em outros pontos do orçamento. Obrigada pelo comentário 🙂

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